A continuação dos trabalhos de prospecção arqueológica no concelho de Évora permitiu a identificação de uma enorme concentração de povoamento romano na envolvente oriental do Castelo Ventoso (S. Miguel de Machede). Esta plêiade de sítios de época romana (essencialmente, pequenos casais rurais) faz-se acompanhar, no mesmo contexto paisagistico, de dois sítios Calcoliticos, um da Idade do Bronze e dois da Idade do Ferro (um deles da II Idade do Ferro, com a presença de grandes contentores cerâmicos com bordos extrovertidos e de cerâmica pintada com tinta vermelha violácea, usualmente designada como "cerâmica Ibérica").
Merece destaque um suave relevo onde se implanta um pequeno reduto fortificado, com vestígios de ocupação Calcolitica, Tardo-Romana e Medieval. Esta pequena fortificação, agora denominada Horta dos Alpendres, possui caractristicas paisagisticas, morfológicas, arqueológicas e históricas que a tornam particularmente interessante:
1 - a aparente diacronia de ocupação do sitio e a questão da antiguidade pré-histórica, ou não, do seu sistema fortificado;
2 - a própria morfologia e implantação do seu perímetro muralhado (situado a meia encosta e, aparentemente, envolvendo apenas a vertente sul do relevo, com uma interrupção anormalmente grande no seu lado Norte - esta ausência pode ser a consequencia de uma destruição acentuada desse troço ou, ao invés disso, ser uma caractristica arquitectonica do próprio sistema fortificado, eventualmente complementado por outro tipo de estruturas ou suportes defensivos);
3 - o carácter tardio e defensivo da ocupação romana, aparentemente não se inserindo, quer cronologicamente quer morfologicamente, no modelo dos fortins e recintos ciclópicos de época republicana do sudoeste peninsular;
4 - a posição geoestratégica e o domínio paisagistico da fortificação, próxima da importante via Mérida/Olisipo e nos limites do termo medieval de Évora;
5 - atendendo ainda ao facto de esta pequena fortificação ter tido uma ocupação medieval, a referência em documentos dos séc. XIII e XIV), escrutinados por Maria Ângela Beirante (Évora na Idade Média - Beirante, 1995) de uma "Atalaia da Toura" (cuja localização exacta ou a própria existência permanecia uma incógnita) que a autora sugere estar nas imediações da agora descoberta, fortificação da Horta dos Alpendres (tratando-se, neste caso, de uma "redescoberta" e do resgate físico, arqueológico, de uma inestimável memória histórica);
6 - a confirmar-se este ultimo ponto, a hipotética relação entre o topónimo, medieval mas de origem latina, "Toura" e a ocupação romana, tomando como exemplo a Villa Romana da "Tourega", onde uma situação semelhante parece ter ocorrido.
Antes de prosseguir e para um melhor enquadramento do ponto numero 5, citamos aqui as palavras da Prof. Doutora Maria Ângela Beirante:
(…) “Concomitantemente com a criação e o reforço de corpos militares disciplinados, uma das grandes preocupações estratégicas da época da Reconquista em terras transtaganas foi a reconstrução de redutos defensivos ou o aproveitamento dos já existentes. Num terreno plano, aberto às devastações das algaras, era forçoso que as poucas elevações fossem utilizadas como sentinelas e, sempre que possível, fortificadas.
Uma das condições mencionadas nas cartas de doação das terras a povoar que se desintegraram do amplo termo de Évora era o da construção de castros e castelos. A referência constante a castelos, torres e atalaias nos documentos relativos à região, em especial os dos séculos XII-XIV, atesta a sua relevância para a época, quer se trate de antigas defesas pré-históricas, quer de construções romanas, quer de fortalezas nascidas das guerras entre cristãos e muçulmanos. Nomeia-se os castelos de Pontega de Benabrei, de Mendo Marques, os Ladrões, Velho do Degebe, Velho de Valongo e Ventoso; refere-se as torres de Honerico Joanes de Almançor, de Lavre, de Castres, do Deão e de Doairos; mencionam-se as atalaias ou ataladoiros de Mudajarem, de S. Cocufato, de Martim Fernandes Adail, da Toura, da Vidigueira e de Azevel (cf. Mapa I – Lugares fortificados).
Criação de corpos militares especializados e construçao de redutos fortificados foram, pois, dois importantes meios que permitiram à região, de que Évora era o centro, robustecer-se e tomar a ofensiva.” (…) - in Évora na Idade Média, pp. 21, 22 e 23, Beirante, 1995)
Uma das condições mencionadas nas cartas de doação das terras a povoar que se desintegraram do amplo termo de Évora era o da construção de castros e castelos. A referência constante a castelos, torres e atalaias nos documentos relativos à região, em especial os dos séculos XII-XIV, atesta a sua relevância para a época, quer se trate de antigas defesas pré-históricas, quer de construções romanas, quer de fortalezas nascidas das guerras entre cristãos e muçulmanos. Nomeia-se os castelos de Pontega de Benabrei, de Mendo Marques, os Ladrões, Velho do Degebe, Velho de Valongo e Ventoso; refere-se as torres de Honerico Joanes de Almançor, de Lavre, de Castres, do Deão e de Doairos; mencionam-se as atalaias ou ataladoiros de Mudajarem, de S. Cocufato, de Martim Fernandes Adail, da Toura, da Vidigueira e de Azevel (cf. Mapa I – Lugares fortificados).
Criação de corpos militares especializados e construçao de redutos fortificados foram, pois, dois importantes meios que permitiram à região, de que Évora era o centro, robustecer-se e tomar a ofensiva.” (…) - in Évora na Idade Média, pp. 21, 22 e 23, Beirante, 1995)
Mapa I - Lugares fortificados. O numero 20, a nascente do Castelo Ventoso (numero 7), refere-se à hipotética localização da Atalaia da Toura, proposta por Maria Ângela Beirante.
Localização da fortificação da Horta dos Alpendres
Relevo da Horta dos Alpendres vista de Sul e implantação do seu sistema defensivo, visível à supeficie)
1 comentário:
Boa grande Mário. Aquele abraço.-)
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