quinta-feira, 3 de julho de 2008

Editorial

O concelho de Évora e o seu vasto património arqueológico são, desde há muito, uma referência a nível nacional. Apesar da actual inexistência de uma Carta Arqueológica do concelho, vários foram os contributos realizados ao longo do século XX e inicios do século XXI que permitiram a criação de uma base de dados de referência para o património arqueológico concelhio, actualmente disponivel na C.M.E. Destaca-se, entre estes, o trabalho de revisão da parte arqueológica do PDM eborense realizado ao longo de 2003 e 2004 (Calado, 2003; Calado, 2005). Os registos actuais (que ascendem aproximadamente às duas milenas) são já reconhecidos como a mais vasta listagem de sítios arqueológicos do panorama nacional. Reflectem uma riqueza inaudita, ainda mal estudada e esparsamente integrada num modelo de interpretação global.
Salvo o estudo de algumas realidades relacionadas com a Pré e Proto História, merecedoras de crescente atenção por parte de inúmeros investigadores, subsistem outro tipo de cronologias que aguardam semelhante investimento.


O que já se encontra feito permite, contudo, uma dedução evidente: estes registos são apenas uma pequena parte do património arqueológico do concelho eborense. É neste sentido que os trabalhos de prospecção no terreno irão ser retomados, recuperando grande parte da equipa que entre 2003 e 2004 se encarregou dos primeiros levantamentos com recurso ao GPS e que, no fundo, integrou os contributos acima referidos, perfazendo uma base de dados sem precedentes em Portugal.
Posto isto, o presente texto serve para dar conhecimento do arranque efectivo dos trabalhos, que se irá desdobrar em inúmeras vertentes e valências, nas quais se conta a formação deste blog.


Numa lógica institucional, cremos ser benéfico deixar aqui expressa a proposta inicial apresentada à Câmara Municipal de Évora, elaborada em conjunto com o Doutor Manuel Calado, coordenador dos trabalhos de 2003/2004.

Proposta para a realização da Carta arqueológica do concelho de Évora:

Na sequência dos trabalhos realizados para esta edilidade por Manuel Calado entre 2003 e 2004 vimos, por este meio, propor o seguinte:

1. Continuidade das prospecções na zona rural do concelho, com inevitável revisão do trabalho já realizado

Dos cerca de 1800 sítios inventariados à data acima referida, alguns verificam-se actualmente desactualizados em termos de avaliação e impacto ambiental. Consequentemente, recentes trabalhos no concelho condensam novos dados (e não são poucos) ainda não introduzidos na base de dados, por manifesta ausência de recursos humanos para o efeito. Assumimos o compromisso de realizar tal tarefa, que se impõe como urgente devido à precariedade de diversos sítios arqueológicos.
Paralelamente, e no seguimento lógico desta tarefa, é fundamental que se prossiga com novas campanhas de prospecção, de forma a colmatar as lacunas territoriais que permaneceram após o trabalho de Manuel Calado.

2. Revisão dos conteúdos e sua organização nas bases de dados existentes

Neste ponto, a nossa proposta resume-se à revisão de alguns sítios não cartografados com a precisão actualmente exigida. Referimo-nos, em particular, àqueles marcados com recurso a cartografia 1.50.000 e 1:100.000, que envolve inevitáveis falhas quando introduzidos em estudos de impacto ambiental e alterações paisagísticas.

3. Criação de uma sistemática de monitorização e actualização constantes dos dados introduzidos

Dado o volume de dados existentes, sabendo de antemão a mutabilidade da paisagem bem como a frequência de novos achados arqueológicos, em particular na sua componente rural, é imperativo que se estabeleçam lógicas de monitorização e actualização quer dos dados antigos, quer de novos sítios localizados no espaço do concelho de Évora. O compromisso é, posto isto, e na medida do possível, tentar estabelecer linhas de comunicação com os vários organismos oficiais estabelecidos no território (ex: Juntas de Freguesia; Universidade; Fundação Eugénio de Almeida, etc) e particulares (ex: proprietários de herdades). Neste ponto, não é de invalidar a colaboração informal do “arqueólogo amador”, que não amiúde, em sucessivas batidas de campo, poderá trazer a lume importantes informações de outra forma impossíveis de obter.

4. Aplicação e integração em base de dados das informações respeitantes ao Centro Histórico de Évora

A introdução, na mesma base de dados, das informações respeitantes ao Centro Histórico assume o seu carácter de uniformização de toda a informação num único suporte informático. Comprometemo-nos, no seguimento, a estabelecer lógicas de acompanhamento de qualquer intervenção realizada no CHE, cruzando estas informações com as já disponibilizadas na Carta de Sensibilidade Arqueológica (CSA). Assumindo igual tratamento a espaço rural e urbano, o compromisso e/ou objectivos serão a utilização de uma metodologia única, facilitando-se os processos de intervenção e trabalho na área.

5. Criação de cartografia especifica para todo o concelho

Neste ponto, o que pretendemos é a criação de elementos de correspondência visual com as leituras encetadas no terreno. O recurso às tecnologias de geo-referenciação (SIG) serão, posto isto, fundamentais para integrar dados com cartografia específica. Em última análise este ponto antecede a criação de uma extensa cartografia relativa ao património eborense que, no seguimento da recente revisão do PDM, é uma importante ferramenta de planeamento e valorização territorial.

6. Criação de um projecto para disponibilizar a informação via online, com a realização de um site específico integrado no site principal da CME

Neste ponto, atendendo à metodologia já implementada além-fronteiras, bem como ao seguimento da disponibilização do Plano Director Municipal via Internet, é importante que se consiga projectar um site especificamente direccionado para esta temática, assumindo o seu carácter pioneiro em território nacional. As razões para tal prendem-se com a necessidade de disponibilizar, de forma rápida, um volume de dados que, de outra forma, seria impossível de sistematizar. Este tipo de informação, regra geral somente acessível a uma percentagem ínfima de especialistas e estudiosos, abarcaria assim um outro público, alargando-se consideravelmente o espectro daqueles que poderiam intervir nesta área, com contribuições várias (ex: estudantes; proprietários dos terrenos onde se localizam muitos e desconhecidos elementos patrimoniais; proprietários de habitações urbanas que estariam mais atentos a achados nas suas propriedades; instituições com responsabilidades várias na área do património, etc).

7. Realização de estudos e artigos intercalares que visam a divulgação do trabalho da Câmara na área e consequente valorização do património do concelho

O compromisso aqui, será o da produção de informação num suporte mais imediato e menos técnico, no sentido de divulgar e informar a generalidade da população dos trabalhos nesta área. Dentro do possível, tentar-se-á estabelecer um método de divulgação único, como forma de preparar uma publicação final, de carácter mais científico, onde seria compilada toda a informação recolhida durante a execução do projecto.

8. Realização e publicação da Carta Arqueológica do Concelho de Évora

A sistematização dos dados envolve a sua divulgação num suporte reconhecível e universal, de acesso universal. Neste ponto, é fundamental que a Câmara Municipal de Évora, dada a natureza e riqueza particular do seu património invista na sua divulgação. Assumindo que a criação de um site específico poderia colmatar algumas particularidades dessa missão, uma publicação em suporte de livro dignifica e promove a imagem da CME, assumindo, e apesar da constante evolução deste tipo de trabalho, uma marca fundamental e novamente pioneira num contexto português.

MODELO APLICADO.
Base de Dados e Campos Constituintes

Sabendo que não existe, nem pode existir, um modelo universal de bases de dados (encontra-se sempre dependente de diversos parâmetros, onde se poderão destacar os objectivos do trabalho, bem como a natureza do objecto a trabalhar), vimo-nos no imperativo de consultar quem já deu provas na área.
Em reunião com o Prof. Dr. Manuel Calado, conseguimos afinar os nossos critérios de pesquisa, bem como a formulação de um modelo de dados aplicável à realidade patrimonial eborense, nas suas vertentes rurais e urbanas. Tal base não pretende definir uma sistematização de campos final. Pretende apenas atingir um ponto de equilíbrio entre a coerência informativa e a quantidade de informação relevante.
Neste sentido, existem campos de finalidade indefinida, que servem como os auxiliares óbvios a outros que não poderão ser definitivos como elemento de informação. Referimo-nos, em particular, aos campos ´ÉPOCA´ e ´TIPO´, introduzidos tendo como modelo o thesaurus do ex-Instituto Português de Arqueologia (IPA).
Ou seja, muito daquilo que irá ser preenchido, será na tentativa de harmonizar o que já foi feito por Manuel Calado, assumindo novos campos especificamente direccionados para a realidade urbana do CHE (ex: Grau de Sensibilidade Arqueológica), com alguns elementos de bases já existentes no território português.
Posto isto, os campos escolhidos são os seguintes:

1. N_ORDEM: número identificativo do sítio na base de dados;
2. DESENHO: eventuais levantamentos do sítio e/ou planta de localização;
3. DESIGNAÇÃO: nome do sítio atribuído pela proximidade de topónimo (espaço rural); nome de rua e/ou número de polícia;
4. MICRO_TOPÒNIMO: designação em Plano de Urbanização (Março de 2000) do imóvel, quando existente (regime urbano); outros nomes pelos quais se reconhece o sítio, de atribuição vernácula e/ou popular (ambiente rural);
5. CARTA_MILITAR: somente aplicável na realidade rural. Número da carta militar onde está inserido o sítio;
6. FREGUESIA: nome da freguesia onde se localiza o sítio;
7. RIGOR: rigor da marcação geo-referenciada do sítio;
8. MERIDIANO: cota X do sítio (elemento SIG);
9. PARALELO: cota y do sítio (elemento SIG);
10. ÉPOCA: de acordo com o campo “Período Histórico” do thesaurus do ex-IPA. Poderá ser preenchido por mais do que uma entrada;
11. TIPO: de acordo com o campo “Tipo de Sítio” do thesaurus do ex-IPA. Poderá ser preenchido por mais do que uma entrada;
12. DESCRIÇÃO: pequena referência ao sítio arqueológico, com sucinta descrição de eventuais achados;
13. FOTOS: referência ao número de fotos tiradas no e sobre o sítio. Remeter para uma base fotográfica paralela;
14. OBSERVAÇÕES: campo abrangente, que serve para acrescentar dados relativos ao sítio, que não tenham lugar em mais nenhum dos campos (ex: cronologias paralelas; achados paralelos; curiosidades, etc);
15. BIBLIOGRAFIA: introduzir bibliografia sobre o sítio, informações orais e relatórios arqueológicos inéditos;
16. PROTECÇÃO: protecção legal em vigor, quando existente. Poderá ser preenchido com a entrada “em vias de classificação”;
17. DECRETO-LEI: número e ano do documento legislativo que regula a protecção legal do sítio;
18. GRAU_SA: Grau definidor de uma sensibilidade arqueológica, na linha do documento Carta de Sensibilidade Arqueológica para o Centro Histórico de Évora. Somente aplicável no CHE;
19. PROPRIETÀRIO: referência, quando possível, do proprietário e/ou proprietários do espaço em que se insere o sítio arqueológico.
20. ESTADO DE CONSERVAÇÃO E AMEAÇAS: referência ao estado de conservação do elemento patrimonial e, sempre que se justifique, alusão às ameaças e aos riscos que possam colocar em perigo o monumento\sítio.


Sítios da Pré história recente (fig.1) e Proto história (fig.2) no Concelho de Évora

Megalitismo funerário (fig.1) e não funerário (fig.2) do Concelho de Évora

Sítios Romanos (fig.1) e Medievais\Modernos (fig.2) do Concelho de Évora.

Distribuição do total dos sítios arqueológicos identificados no Concelho de Évora.

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