terça-feira, 8 de julho de 2008

Contributos para a Carta Arqueológica do Concelho de Évora: uma breve história da investigação.

A informação bibliográfica e documental referente à arqueologia do concelho de Évora, é, como seria de esperar, muito variada, em termos qualitativos.
Os dados publicados pelos autores anteriores ao sec. XX (e primeiras décadas deste século) são quase todos muito vagos, sobretudo no que diz respeito à localização dos sítios arqueológicos; no entanto, para além de serem numericamente pouco importantes, estes dados foram, em boa parte, revistos e melhor circunstanciados, pela investigação mais recente.
Nas décadas de 40 e 50 do século XX, destacam-se as obras dos arqueólogos alemães Georg e Vera Leisner (Leisner, 1948-49; Leisner e Leisner, 1956, 1959), cujos métodos de trabalho produziram uma das obras fundamentais para o estudo do megalitismo eborense e não só. Apesar de terem usado cartografia de pequena escala (1:100 000), as indicações que, nos textos, são avançadas sobre a localização de grande parte dos monumentos, ainda hoje são de extrema utilidade. Por outro lado, para além de terem levado a cabo um levantamento bibliográfico bastante exaustivo sobre as fontes mais antigas, os Leisner localizaram e descreveram um elevado número de monumentos inéditos.
Posteriormente, nos anos 60 e 70, verificaram-se significativos avanços no conhecimento do megalitismo regional, graças às descobertas de Henrique Leonor Pina, José Pires Gonçalves e do chamado “grupo do Hospital” que integrou nomes como Galopim de Carvalho e Quintino Lopes. Coube aos primeiros, com destaque para Leonor Pina, a identificação e publicação (Pina, 1971) dos primeiros recintos megalíticos de Évora e de alguns novos menires isolados.
Sobre a época romana, outro dos temas maiores do património arqueológico de Évora, merecem destaque alguns trabalhos temáticos, nomeadamente sobre a rede viária (Saa, 1963) e sobre a epigrafia (Encarnação, 1984), ou ainda uma obra de síntese, à escala nacional (Alarcão, 1988), cujos dados, apesar de substanciais, enfermam, geralmente, de deficiente precisão locacional.
Convém ainda referir que a cartografia geológica, na escala 1: 50 000, contemplou, por norma, alguma informação arqueológica - sobretudo referente a monumentos megalíticos - embora, infelizmente, as notícias explicativas raramente ultrapassem o nível da listagem, sem qualquer elemento descritivo.
Efectivamente, só nos finais dos anos 80 do século XX, se iniciaram, no concelho de Évora, os primeiros projectos de prospecção de superfície, mais ou menos sistemática e de alcance diacrónico.
Um deles teve como objectivo a elaboração da Carta Arqueológica do Concelho de Évora (CACE); coordenado por Jorge de Oliveira (Oliveira et al., 1987), contou com escassos apoios, disponibilizados pelo IPPC, no contexto de um programa de Carta Arqueológica nacional, entretanto abandonado.
Outro projecto desenvolvido na mesma altura foi o Evora Archaeological Survey (EAS), coordenado por Colin Burgess, da Universidade de Newcastle, com o objectivo específico de estudar o contexto arqueológico do recinto megalítico dos Almendres. (Burgess et al, 1987).
Na década seguinte, outros trabalhos de prospecção vieram alargar a base de dados disponível, nomeadamente o projecto dirigido por José Manuel Mascarenhas, no âmbito do Programa Stride (Mascarenhas, 1995), o trabalho de reunião de dados efectuado por António Carlos Silva entre 1998 e 2000 bem como dois outros, dirigidos por Manuel Calado; o primeiro destes incidiu na área envolvente do recinto de Vale Maria do Meio e no traçado da A6, em 1994-95 (Calado, 1995; Calado e tal., 2004), e o segundo na área das Herdades das Murteiras (e propriedades anexas, da Fundação Eugénio de Almeida), em 2001 (Calado, 2001b; 2006a).
Infelizmente, alguns destes trabalhos não chegaram a ser objecto de publicação integral, encontrando-se disponíveis apenas sob a forma de relatórios inéditos. Ainda durante 2003 e 2004 foi também realizada a revisão da parte arqueológica do PDM concelhio (Calado, 2003; Calado, 2005), trabalho este que veio acrescentar cerca de cinco centenas de novos monumentos e sitios arqueológicos das mais diversas cronologias, tipos e implantações.
Ainda nos anos noventa, merece destaque o projecto de investigação sobre os monumentos de Vale de Rodrigo (Kalb, 1993; Kalb e Höck, 1997; Larsson, 2001) que, apesar de apostado fundamentalmente na escavação da necrópole megalítica, não deixou de acrescentar alguns sítios inéditos, na área envolvente dos sítios escavados; também neste caso, se aguarda a publicação definitiva dos resultados.

Seg. Calado, Santos e Carvalho, 2008

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